Igor Cruz visitou Havana e Trinidad, em Cuba, com sua esposa, Kátia, no meio do ano passado, e contou sua experiência aqui de uma maneira bem pessoal. Seu relato está dividido em duas partes, cada uma falando de uma das cidades. Leia aqui o relato sobre Havana.
Trinidad
Trinidad – cidade cubana tombada como Patrimônio Histórico da Humanidade desde 1998 – aí fomos nós! Entre três horas e meia e quatro de viagem, em um carro com motorista. Uma espécie de táxi de longa distância.
Como os nativos eram muito atenciosos durante a prestação de seus serviços turísticos, era comum conversarmos sobre o país, sua agruras, seus exemplos e a opinião de cada cidadão. A maioria dos motoristas é composta por engenheiros ou médicos. E fazem das avenidas sua renda extra. Acontece também com as casas que são locadas pelos turistas.
Os habitantes da Ilha realmente não são assim tão satisfeitos com a ditadura cubana. Mas, todos eles afirmaram que, apesar de terem pouco dinheiro, não falta trabalho que complemente a renda, dificilmente há casos de violência urbana e a fome é rara, mas não deixa de ser real. Mortalidade infantil é zero. A educação e a saúde são referência para o mundo. O salário do professor é maior que o do médico. A única reclamação é a perseguição a quem não concorda com o sistema, ou seja, liberdade de expressão, zero.
Sobre o fim do embargo, o receio é que, da palavra de uma taxista médica, “…Havana se transforme numa São Paulo ou Rio de Janeiro, tão violenta quanto…” Sim, eles sabem tudo do Brasil, além de novela e futebol. E nos admiram. Conhecem a nossa cultura, o samba, nossas tristezas e alegrias e até o nome da nossa presidente. Conversando com um garçom, ele falava português-brasileiro fluentemente sem nunca ter pisado fora de Cuba.
Chegando a Trinidad, ficamos na casa de outra médica, não me lembro da especialidade, mas nos foi muito útil quando o corpo, definitivamente, estranhou a comida. Ela tinha o remédio certo na hora certa. A casa enorme de quarto aconchegante nos dava uma vista linda da cidade.
No passeio pelas ruas da cidade que lembra Paraty – RJ (mesmo eu nunca tendo ido a Paraty), uma placa me chamou a atenção, algo como “desculpe-nos, hoje só temos música mecânica” (já adianto o meu pedido de perdão aqui por não ter registrado esse momento). Juntando as peças, minha paixão pela Ilha foi ao extremo. Tanto em Havana, quanto em Trinidad, a música ao vivo é parte do cotidiano dessa gente, praticamente o dia todo. Música ótima, uma variação entre salsa e jazz cubano.
Em uma praça, aonde rolava umas festas típicas, com muita salsa, a cada dia uma banda diferente tocava e ainda havia umas aulas com alguns dançarinos. Muita gente vendendo mojito, cerveja, run e afins. O calor? O de praxe.
Viajar, falar outras línguas, conhecer novos costumes, ouvir novas histórias, tudo isso é ótimo e enriquece o coração. Mas encontrar brasileiros legais em um lugar que você pensa que é inóspito, nos conforta a razão. Foi lá que conhecemos o pessoal do Sarau Poesia na Brasa e um casal de pernambucanos arretados. Assim, fez-se a turma de aventureiros.
Procuramos por um passeio a uma cachoeira que, conforme diziam os guias, só se chegava a cavalo ou a carroça, pois, carro nenhum ousava adentrar a mata enlameada que nos esperava pelo caminho. Quase uma hora depois sobre a precária carruagem com quatro pessoas – Kátia incluída – carregada por apenas um cavalo, tombou de lado. Eu assisti tudo de cima do meu veículo equino. Resultado: uma lesão entre perna e nádega compunha o desenho do corpo de minha pequena e guerreira companheira.
O “piloto” ganhou um corte profundo na perna, mas não demonstrava preocupação. Dizia que, com uma rápida ligação, um carro com médico o buscaria. Seguimos viagem com outro guia até o início de uma trilha, onde caminhamos durante uns 20 minutos ao encontro do pequeno paraíso escondido. Cachoeira, piscina natural e saltos de uma pedra para a água gelada.
Na volta, o pessoal do Sarau ainda deu uma palhinha com suas belas afro-canções, num lugar no meio do caminho, onde paramos para comer uma comida caseira honesta e bem saborosa.
O dono do estabelecimento, uma casa simples em uma espécie de sítio, prestava atenção com olhos curiosos e sorriso tímido naquilo que ele não parecia estranhar.
Terminamos Trinidad com Igor e Laysa, nosso casal recifense parceiro, com um sol de ouro.
Fomos até a Playa Ancón e vi, talvez, até agora, em toda a minha vida, a praia mais linda diante dos meus olhos. Se deus existe, com certeza, ali deve ter sido o último verso de sua poesia.
Deixamos os brasuco-nordestinos em Trinidad e voltamos com um casal de europeus (ela, francesa, ele, italiano) para conseguirmos um preço mais em conta. Foi divertido, porque o italiano discutia com o motorista sobre a qualidade do carro que ele dirigia, por sinal, sem cinto de segurança, cujo uso não é obrigatório em Cuba, nem mesmo, na estrada.
Mais uns dois dias em Havana, para batermos as últimas pernas, comprarmos lembrancinhas, livros, pôster, etc. Depois dos dias que mais pareceram um mês naquele país, saí com palavras-chave que resumiriam este longo texto: beleza, contradição, simpatia, calor, amor, revolução, história, música, preconceito, agradecimento, pouquíssima tristeza e demasiada alegria no meu peito e no rosto de cada cubano. Voltarei.
Leia a primeira parte do relato, em Havana
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4 Comentários
Havana: Cuba e o imaginário coletivo (parte 1/2) | Viagem Primata Viagem Primata
12 de setembro de 2016 às 02:11[…] Igor Cruz visitou Havana e Trinidad, em Cuba, com sua esposa, Kátia, no meio do ano passado, e contou sua experiência aqui de uma maneira bem pessoal. Seu relato está dividido em duas partes, cada uma falando de uma das cidades. Leia aqui o relato sobre Trinidad. […]
Daiana Araújo
12 de setembro de 2016 às 17:25Trindad é mais linda que pensei, nossa que imagens lindas!! Parabéns!
Brenda Costa
18 de abril de 2017 às 00:33Show. Dicas super incríveis. Adorei.
Rafael Leick
18 de abril de 2017 às 02:05Valeu! 😉