Depois de um primeiro dia bem cheio, começamos o segundo (e infelizmente último) dia cedo para poder ir ao campo de concentração, que era mais afastado da cidade.
Como nosso hostel era bem próximo da Alexanderplatz, e passagem obrigatória no caminho para a estação de trem, aproveitamos para mais algumas fotos.
E de lá, embarcamos rumo ao campo de concentração Sachsenhausen. Tínhamos que ir de trem até a última estação de uma das linhas e de lá pegar um ônibus até o lugar. Sabíamos isso na teoria, tínhamos um mapa em mãos, então lá fomos nós.
Pegamos o primeiro trem e, obviamente, pelo cansaço e a longa distância, acabamos dormindo, e em uma estação tivemos que sair e aguardar o próximo trem que iria até nosso destino final.
Quando saímos da estação, depois de uma viagem de mais ou menos uma hora, desembarcamos quase que em outra cidade. Um lugar muito bonito, com cara de cidade do interior.
Bem ao lado da estação um McDonald’s e um estacionamento de motos e bicicletas bem concorrido.
Tomamos um sorvete, demos uma volta pelo quarteirão e tentamos entender como funcionava o ponto de ônibus, destinos e horários. Um cara que viu nossa aflição, nos ajudou e deu a dica certa.
O caminho foi bem rápido, e desembarcamos no Campo de Concentração Sachsenhausen.
Providenciamos um audio-guide (indispensável para o tamanho e a quantidade de informação passada).
Originalmente, o lugar era uma meio que uma cidade enorme, auto-suficiente e hoje o que podemos visitar não chega a 1/3 do que era.
A parte que se pode fazer a visita é a parte triangular na foto abaixo, onde ficavam os “prisioneiros”.
O formato triangular é explicado de forma lógica. Com esse formato os guardas em cima da muralha na Torre Branca (base do triângulo) conseguiam ver todos os corredores entre as “casas”, tinham uma visão de quase todo o campo.
Acima, o corredor de entrada do campo. À esquerda, ficavam casas dos generais e pessoas que lá trabalhavam e à direita, o muro que já fazia proteção do campo.
Acima, a primeira visão que os prisioneiros tinham, pátio onde era feita a triagem das pessoas que chegavam.
Uniforme que os soldados nazistas usavam na época
Acima, portão de entrada e também a casa onde soldados ficavam vigiando o campo (base do triângulo / Torre A). No portão a frase gravada: “O trabalho liberta” (Arbeit macht frei).
Proteção do muro de entrada, feita com arame farpado, cerca eletrificada (essa mais alta) e entre a cerca e o muro haviam cães
Atravessando o portão, já estamos dentro do campo de concentração. Hoje nem todas as “casas” estão em pé, devido ao tempo que se passou de lá pra cá (o que tambem não foi muito) e as modificações para transformar o campo em um ponto turístico.
Então, para “ilustrar” a posição das contruções, há um muro com o formato de como seria se as casas ali estivessem.
Não existem todas as “casas” mais ha algumas preservadas, ou parcialmente preservadas.
As fotos abaixo mostram o que seria um alojamento de presos.
Banheiro, parte destinada ao banho
Banheiro, parte destinada às necessidades fisiológicas
Banheiro, parte destinada às necessidades fisiológicas
A caminho do dormitório
O dormitório, com camas umas bem grudadas nas outras e com “triliches”, cama para três pessoas, com três níveis
Dentro do campo, havia uma divisão, de periculosidade dos que ali estavam. A área das fotos abaixo, chamada de Prisão (as outras áreas do campo não eram consideradas assim, em teoria), é o equivalente às nossas “solitárias” atuais. Pequenas celas, onde eles ficavam presos em uma área também isolada dos demais.
Nessas celas, a janela (ao fundo) tinha uma portinha, que pelo lado de fora os guardas controlavam a luminosidade que entrava na cela: tática de tortura
Corredor interno da área de isolamento
No pátio externo da área de isolamento há esses três postes onde os prisioneiros eram torturados e mortos. Com os braços amarrados para trás, eles eram pendurados pelas mãos, o que invariavelmente desarticulava e inutilizava os membros. Perdido para o “trabalho que libertava”, só restava ao castigado a última liberdade: a morte.
Vista externa do prédio, e detalhes das portas nas janelas, usadas para controlar a entrada de luz
Continuamos a caminhada pelo campo, que não é pequeno, muito pelo contrário. Levamos umas três ou quase quatro horas andando, fotografando, e aprendendo muito.
Uniforme usado por “prisioneiros”
Foto aérea do campo, como era originalmente
Um outro prédio que se manteve em pé é a cozinha. Nas paredes, há algumas pinturas, bem humoradas com alguns legumes, e que foram descobertas após uma restauração e são hoje protegidas por vidros.
Tanque que era utilizado para lavar batatas
Vista da área principal da cozinha
As pinturas encontradas sempre fazem alguma alusão à qualidade, ou higiene. Achei bem curioso isso
Detalhe de uma das pinturas na parede da cozinha
Sala onde era armazenada as carnes, por isso os ganchos no teto
Saímos da cozinha, e estamos no centro do campo (da parte triangular mostrada nos mapas e maquetes), ali podemos ver o portão de entrada de um lado, e do outro o monumento que esta atrás do Rafa na foto abaixo. Na posição que esse monumento está, prejudicaria a visão dos guardas da muralha principal (torre A), e “estraga” todo o projeto. É um monumento erguido pelo movimento anti-nazista como forma de protesto ao regime que se instaurou naquele local nos anos em que estava ativo, já que estraga um dos pontos planejados na construção do campo.
Detalhe do monumento anti-nazista
Dali, partimos para uma parte que fica fora do perímetro do triângulo. Fechada por um portão e protegido por esse tipo de guarita, era uma área escondida, isolamento total.
Lá dentro a visão é essa, pequenas casas umas na frente das outras, até que arrumadinho. O detalhe está lá dentro.
Casas pequenas, com janelas minúsculas e fechadas, inteira pintada de preto por dentro e era dividida em 2 partes. Ali era uma área para presos com certos privilégios, pelo que entendemos. Algo como intelectuais, etc., mas ainda assim não era nada agradável.
De lá, já entramos na “Estação Z”, última parte a ser conhecida pelos que ali estavam presos. Vale lembrar que o nome do prédio de entrada era Torre A, e termina na Estação Z; não é somente um nome qualquer, mostra o fim de um processo. Como se deve presumir, e é sabido pela história, ali era onde os “concentrados” eram executados. De duas maneiras, uma era no local abaixo, por enforcamento.
Eram levados a esse local onde eram enforcados, em grupos de 5 a 6 pessoas.
Depois de enforcados os corpos eram “guardados” nessa sala (fotos abaixo), e depois queimados em uma outra parte do processo.
Sala de onde os corpos eram “guardados”
A Estação Z, ainda tinha a câmara de gás, e fornos para cremação.
O local, hoje em ruínas, contava com paredes duplas e ficava com uma música em volume alto tocando sem parar. Tudo isso para abafar os sons dos executados.
Na saída da Estação Z, há homenagens aos que ali morreram, com muitas flores e uma frase na parede escrita em Alemão e Inglês, dita por um prisioneiro que conseguiu sobreviver.
“E digo mais uma coisa – a Europa do futuro não pode existir sem lembrar de todos aqueles que independente de sua nacionalidade, foram mortos naquele tempo, com completo desprezo e ódio, que foram torturados até a morte, deixados com fome, incinerados na câmara de gás, queimados e enforcados…”
Depois da Estação Z, o ultimo prédio que passamos foi a enfermaria, ou uma espécie de IML, onde médicos realizavam “experimentos”. Equipes médicas punham prisioneiros em situações extremas e desumanas para ver “o efeito”. A maioria das “pesquisas” destinava-se a “auxiliar o Exército”.
E com todo esse dia, informação e muitas lições, saímos de lá quase 4 hrs depois. Um dia maravilhoso de Sol, em uma história sombria e triste, de quão cruel podem ser as pessoas, de quanto pode valer para alguém uma vida, a que ponto somos capazes de chegar por ver em alguém uma diferença. Fica a imagem, ainda tirada lá no campo, de uma bela árvore que tem bem no meio do pátio.
Saímos para seguir o caminho de volta a Berlim, e como destino tínhamos um dos mais famosos pontos e ou atrações da cidade que é o muro de dividia a cidade, conhecido por Muro de Berlim. Não sabaiamos que o ônibus que passava em frente ao campo e leva até a estação de trem só passava a cada 30 minutos e ele tinha acabado de passar. Com isso, fomos caminhando pelas pequenas ruas até a estação.
No trem, o caminho de volta (tão longo quanto a ida), agora era até o Muro.
Na estação de desembarque encontramos esse “autorama de trens”, muito legal, você coloca uma moeda e aciona uma das linhas de trem, e também as coisas ao redor, casas, pessoas, etc.
Caminhando, seguindo um mapa meio ruim que tínhamos, chegamos ao destino e a primeira visão foi essa, um enorme muro, todo pintado.
As pinturas, em sua maioria, fazem menção ao passado, e acontecimentos da época e são uma forma de protesto ao que aconteceu.
Pelo que lemos, as pinturas são organizadas e feitas de tempos em tempos por artistas de todos os lugares do mundo.
Atrás desse muro temos o rio, um lugar muito agradável onde sentamos para ver o sol se pôr, admirar a paisagem e dar um descanso para as pernas também.
De lá, fomos rumo ao Checkpoint Charlie, ponto de fronteira entre os dois lados do muro que dividia a cidade. No caminho, mais fotos de carros. Essa é uma das muitas coleções que fizemos em forma de fotos, a coleção de fotos de táxis de todas as cidades. E como legítimos e tradicionais alemães, a maioria deles era da Mercedes-Benz.
Outra parte da coleção em fotos são os carros de polícia, e aqui achamos vários deles juntos.
Uma das grandes dificuldade em Berlim é a lingua, porém as pessoas são sempre muito receptivas e tentando falar inglês com a gente, mas ler as placas chega a ser engraçado.
Estação do metro com luzes coloridas no teto, mistura de antigo e moderno
Chegamos então no Checkpoint Charlie, que era uma das divisas e pontos de ligação dos dois lados do muro. Sobrou o que era uma guarita e uma simulação de barricada controlada pelo exército norte-americano.
No caminho, encontramos essa enorme escultura, de algo que se parecia com uma grande bola de neve levando tudo que há pela frente, mas não temos ideia do que ela significava.
Esse foram os últimos passeios por Berlim. Daqui voltamos ao hostel, e como iríamos pegar o trem muito cedo rumo a Praga, nossa próxima publicação no blog, não pegamos a noite para dormir. Resolvemos ir a uma balada bem próxima do hostel e de lá ir direto para a estação de trem, já que teríamos várias horas para dormir no caminho.
A balada foi um fiasco, voltamos pro hostel mais cedo, pegamos as malas e fomos pra estação antes do previsto. Ficamos no McDonald’s, junto com mais várias pessoas que ali esperavam seus trens. Acabamos como os outros, dormindo em cima da mesa.
E enquanto estávamos tirando um cochilo em cima da mesa, apareceu um grupo de caras bem bêbados e começaram a mexer com todos que estavam lá e já não muito bem-humorados por estar esperando em um lugar desconfortável e inapropriado. Mexeram inclusive com a gente. Quando eu acordei, um dos caras estava do meu lado e outro do lado do Rafa, e além do susto de acordar com dois bêbados falando alemão com você, eles começaram a falar pra tomar cuidado com as bagagens. Ficamos assustados e conferindo se estava tudo onde deveria estar, documentos e dinheiro, mas estava tudo OK, eles estavam só causando mesmo. Comeram, causaram e foram embora fazendo baderna, para o alívio de todos que já não conseguiram mais dormir até o trem sair. Dali a pouco já fomos pro trem…
Agora, rumo a Praga!!!!
4 Comentários
Rafael Leick
15 de setembro de 2010 às 20:48Ga, looonga história, mas muito bom!<br />Legal relembrar tudo isso! Quanta coisa em um dia só, né?
Maria Flávia
16 de setembro de 2010 às 21:32Adorei o post, fiquei até com vontade de conhecer o campo, pois tbm sou fanática por história mundial, vcs escrevem muito bem, continuem postando!! Abraços
Rafael Leick
17 de setembro de 2010 às 18:02Maria Flávia, agradeço em nome do The Way, incluindo o Gabriel…<br />Valeu pelos elogios e continue acompanhando. Estamos atrasados, mas pretendemos continuar postando tudo até a nossa volta pro Brasil, ok? rs<br />=)
Silvana
26 de setembro de 2010 às 20:23Bom, então gostei de Berlim , mas fiquei um pouco que chocada com o campo de concentração , imagino vcs lá!!!<br />Estava com saudades de ver tdo isso e comentar mesmo que atrasado, hehehehe, que legal!!!